Perspectivas agrícolas OCDE-FAO 2019-2028 – Leite e produtos lácteos

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31 de julho de 2019
FAO – Tradução livre: Terra Viva

Incertezas/FAO – A produção mundial poderá ser afetada por eventos climáticos imprevistos que repercutirão sobre a produção de leite a pasto, sistema atualmente bastante difundido no mundo. Com efeito, as mudanças climáticas aumentam o risco de seca, de inundação e doenças que podem afetar o setor pecuário de formas diferentes (volatilidade dos preços, rendimento das vacas de leite e ajuste de rebanho). 



A característica sazonal da produção de leite em sistema de pastagens envolve uma variação nas cotações internacionais de acordo com as estações, com picos no meio do ano civil, sobretudo da manteiga. O forte alta no preço da manteiga nesses últimos anos, vem destacando esse fenômeno.

A legislação sobre a proteção ambiental condiciona em grande parte a evolução da produção de leite. Em certos países, as atividades do setor lácteo libera consideráveis quantidades de gás de efeito estufa (Nova Zelândia, Irlanda). Qualquer limitação nesse sentido irá repercutir na produção de leite. Práticas sustentáveis em matéria de acesso à água, gestão de efluentes das propriedades são outros aspectos que se houver mudança de orientação poderá impactar no setor.

Na UE, a supressão das quotas lácteas em abril de 2015 relançou a especialização e relocalização da produção de leite. Em muitos países – Holanda, Alemanha, Dinamarca, França e Itália – as preocupações ligadas ao meio ambiente poderão ser obstáculos às futuras elevações de produção de leite. Na UE, a necessidade de restaurar o equilíbrio mineral ao nível de propriedade poderá contrair a produção de leite, particularmente pela produção especializada, com base em outra alimentação, que não a pastagem.

Doenças animais podem ter impacto considerável sobre a produção de leite. A mamite é uma infecção cada vez mais presente em vacas de leite em explorações do mundo inteiro, independentemente do seu tamanho. É também a patologia mais prejudicial do ponto de vista econômico, com reflexos consideráveis sobre produtividade animal e qualidade do leite. A evolução futura em matéria de sensibilização, mas, também de diagnóstico e tratamento, poderá aumentar consideravelmente a produção de leite com a redução de perdas.

A luta contra inúmeras doenças, incluindo a mamite, envolve, geralmente, o tratamento com antibióticos. No entanto essa prática suscita inquietações relacionadas ao desenvolvimento de resistências bacterianas devido à utilização excessiva, com o risco de reduzir a eficácia dos tratamentos existentes e a necessidade de desenvolver novos medicamentos. A evolução nesse setor constitui uma incerteza a mais para os próximos dez anos.

Os preços relativamente elevados da manteiga de leite poderá favorecer a sua substituição por gorduras vegetais (leite em pó adicionado de gorduras vegetais e outros produtos lácteos) para certos usos e destinação. Isso cria incerteza suplementar relacionada à valorização relativa da matéria gorda e do extrato seco desengordurado do leite no longo prazo.

Nos últimos anos, substitutos de origem vegetal (bebidas à base de soja, amêndoa, arroz ou aveia) estão ganhando importância dentro do consumo de leite líquido em inúmeras regiões do mundo, notadamente na América do Norte, Europa, e Sudeste da Ásia.

Essa tendência pode ser explicada pela intolerância à lactose, mas também, pelas interrogações sobre as consequência para a saúde e o meio ambiente o consumo de leite e produtos lácteos. Os substitutos de origem vegetal tiveram um forte crescimento, mesmo que o ponto de partida seja baixo, suscita um debate preocupante sobre o impacto sobre o meio ambiente e seus benefícios para a saúde. Consequente, a incerteza fica posta quanto à incidência no longo prazo dessa evolução sobre a demanda de lácteos.

A evolução de políticas nacionais constitui um outro motivo de incerteza. No Canadá, as projeções relativas às exportações de leite em pó desnatado são difíceis de estabelecer pelo fato da reorganização da cadeia láctea nacional depois da Decisão de Nairobi adotada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que aboliu os subsídios à exportação de produtos agrícolas a partir de 2020. Na UE, as compras de intervenção de leite em pó desnatado e de manteiga a preços determinados, que teve grande repercussão nas cotações do leite em pó desnatado nos últimos anos, constituem uma eventualidade.

Os fluxo de comércio de lácteos poderá ser profundamente modificado por transformações do ambiente comercial. Até o momento, os maiores países consumidores de laticínios, Índia e Paquistão, não estão presentes no mercado internacional, já que a produção doméstica está sendo absorvida pela crescente demanda do mercado interno. A modificação, ou a entrada e vigor de acordos comerciais poderá repercutir sobre a demanda e o fluxo comercial de produtos lácteos. A UE e o Reino Unido tem importante comércio de queijo e de produtos lácteos, mas, poderá mudar completamente tanto pelo Brexit, como pelo Acordo Comercial Canadá-EUA-México (ACEUM) que deverá refletir sobre o fluxo comercial na América do Norte. Outra alteração virá do embargo russo, que suspendeu a compra de muitos produtos lácteos procedente de grandes países exportadores, e que deverá findar em 2019. Suas importações deverão, então, aumentar ligeiramente, mas, é pouco provável que retornem aos níveis de antes do embargo.

Nota: Os produtos lácteos frescos compreendem lácteos e leite que não estejam incluídos entre os produtos transformados (manteiga, queijo, leite em pó desnatado, leite em pó integral, e em alguns casos, a caseína e soro de leite). As quantidades são expressas em equivalente leite de vaca.